Karina Garcia concede entrevista sobre seu período na Universidade Purdue
Karina Mendes Pinheiro Garcia retornou a pouco tempo dos Estados Unidos onde se envolveu com atividades no National Soil Erosion Research Laboratory (NSERL), laboratório de pesquisas sobre Erosão do Solo dos Estados Unidos. A aluna faz parte do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais (PGTA) da UFMS e realizou parte de seu doutorado na Universidade Purdue. Karina está estudando a taxa de infiltração nas condições brasileiras e estudando as características que a afetam, está sendo elaborado um modelo de taxa de infiltração utilizando as características físicas do solo e a comparação de métodos utilizados para determinar a taxa de infiltração de água no solo, informação essencial para determinar as técnicas de conservação do solo que permitem favorecer o desenvolvimento de culturas agrícolas e permite redução dos danos causados por sua reduzida função, como inundações, deslizamentos de terra e perdas da camada produtiva do solo.
No Brasil, o projeto é orientado pelos professores Teodorico Alves Sobrinho e Paulo Tarso Sanches de Oliveira, enquanto que nos Estados Unidos, a orientação é do prof. Dennis Flanagan. De volta ao Brasil, a aluna continua realizando seu trabalho e compartilha com a comunidade acadêmica e profissional parte de sua experiência na entrevista a seguir.
Qual foi seu objetivo neste tempo na NSERL /PURDUE?
O objetivo foi utilizar as informações de taxa de infiltração obtidas nas condições brasileiras e poder desenvolver um modelo para nossas condições a partir da experiência adquirida nos Estados Unidos. O laboratório de pesquisas sobre erosão do solo apresenta diversas pesquisas na área de erosão, sedimentos e hidrologia, além da instituição ter tradição no desenvolvimento de modelos de processos de escoamento superficial e erosão hídrica. E poder aprender com a orientação do professor Dr. Dennis Flanagan, que possui grande experiência na área, sendo um dos desenvolvedores do WEPP, um dos principais modelos de predição de perda de solo.
Qual foi o seu aspecto favorito nesta estadia?
Uma Universidade como a Purdue, uma das melhores dos EUA, com toda sua estrutura arquitetônica, de laboratórios e organizacional é fascinante. Mas, conhecer o laboratório Nacional de pesquisa sobre erosão do solos, uma referência mundial nos estudos de solos, conhecer os laboratórios onde são produzidos a maioria dos artigos e poder conhecer e conviver com os desenvolvedores do modelo do Projeto de Previsão de Erosão de Água (WEPP) e a Equação Revisada de Perda de Solo Universal (RUSLE), é algo gratificante e fantástico. Posso afirmar que é a realização de um sonho para qualquer pessoa que trabalha na área.
De que forma esse período na NSERL /PURDUE ajudou na sua formação como pesquisador?
Durante os estágio pude acompanhar as técnicas utilizadas nos estudos de simulação de chuva realizadas no laboratório, participei de workshops sobre a escrita científica, participei de atividades e discussões semanais sobre tópicos relacionados a erosão, assisti seminários e defesas de teses, participei de dias de campo a fazendas que monitoram produção de sedimentos e realizei pesquisas sobre a taxa de infiltração, participei de curso de curta duração sobre o modelo predição de perda de solo (WEPP) e fiz curso da língua inglesa. Uma vez por semana, tínhamos reunião no grupo de pesquisa com o orientador do exterior para falar das atividades desenvolvidas, dificuldades encontradas e evolução nos trabalhos. Essa atividade permitiu tanto o aprimoramento da língua quanto das atividades acadêmicas. Ao final do estágio apresentei um seminário em inglês para os integrantes do laboratório sobre os trabalhos realizados, essa experiência foi indescritível. O estágio possibilitou o aprimoramento da língua inglesa, o que facilitará a escrita para publicações em periódicos internacionais.
E como pessoa?
A oportunidade do doutorado sanduiche me trouxe um crescimento pessoal tanto quanto profissional. Foi a primeira vez que saí do país, viajar para um lugar desconhecido, longe da família e amigos, com uma língua diferente da materna é algo que assusta a princípio. Tive que me adaptar a um novo país, com cultura totalmente diferente, pude conhecer muitas pessoas, fazer muitas amizades, conhecer o país que é a potência mundial, além de viajar para lugares incríveis. Conheci uma cultura diferente, fiz muitos amigos de diversas partes do mundo, me tornei mais confiante, enfim foi uma experiência maravilhosa.
Você, e o seu grupo de pesquisa, continuam interagindo com o NSERL. Conte-nos um pouco acerca disso.
Mantenho o contato com o prof. Dennis Flanagan, meu co-orientador nos EUA, ele está participando e orientando as publicações que estou escrevendo. Estamos trabalhando nos artigos desenvolvidos durante o estágio no NSERL para finalizá-los e publicarmos.
Karina, para terminar. Quais conselhos você daria para o aluno que deseja realizar pesquisa de alta qualidade?
Infelizmente nosso país não prioriza a educação e essa realidade é observada na falta de estrutura e de verba em muitas Universidades, programas de pós-graduação e escassez de bolsas de estudos. Se o estudante busca estudar fora, o ideal é não desanimar, e tentar outras formas de financiamento, inclusive no exterior. Hoje, existem diversos programas que oferecem bolsas para estudantes brasileiros para diferentes partes do mundo. É importante que o aluno procure fazer contato com pesquisadores da sua área de atuação, se informe sobre possibilidades de parceiras e que o aluno estude outra língua, de preferência o inglês. Acredito que o doutorado sanduiche, deveria ser atividade obrigatória nos cursos de doutorado, essa experiência, permite um aprendizado e crescimento em todos os aspectos. Sempre quis realizar parte dos meus estudos fora do país, confesso que no primeiro momento estive com receio pois, meu marido não poderia me acompanhar. No entanto, ele for grande incentivador para ir em busca dos meus objetivos.
Gostaria de agradecer a todos os que tornaram possível esse estágio, ao PGTA, ao prof. Johannes, meus orientadores brasileiros prof. Teodorico e prof. Paulo pelo incentivo e oportunidade, prof. Dennis e a Universidade Purdue, CAPES e todos aqueles que me incentivaram.
Estatua de Neil Armstrong |
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